sábado, 16 de janeiro de 2010

Um herói brasileiro




Em 2008, estive em muitos dos lugares atingidos pelo furacão desta terça-feira. Lembro bem dos oficiais do Comando Militar da Amazônia me mostrarem, com orgulho, a reforma que fizeram em uma fábrica de vidros abandonada. A antiga fábrica agora era a sede do 9 Batalhão Brasileiro, o Brabat, que estampava na fachada a onça pintada como símbolo. Não se sabe ainda o tamanho da destruição neste prédio. Mas o Palácio do Governo, sem dúvida a construção mais imponente de Porto Príncipe, agora completamente arruinado, mostra bem a fúria do terremoto.


Mas, para mim, nada é tão chocante quando as fotografias do prédio da Minustah, a Missão das Nações Unidas no Haiti. Estive lá por duas ocasiões. O antigo hotel de luxo, falido e abandonado, passou por obras de adaptação para receber os funcionários da ONU que chegaram em 2004 para estabilizar o país dividido em conflitos políticos e sociais.

No alto de um morro, guardado pelos soldados capacetes azuis estava sediada a esperança do Haiti. O salão de entrada, não ostentava mais os sofás e quadros que recepcionavam os hóspedes. No lugar, simpáticas atendentes haitianas, conduziam os visitantes aos gabinetes. Lembro de ter passado pela antiga piscina do hotel, sem água, mas ainda com os azulejos decorados com desenhos de animais marinhos.

Fomos ao quarto andar, aguardamos alguns minutos quando uma porta se abriu. Um senhor de cabelos grisalhos nos deu um sorriso acolhedor. Era Luiz Carlos da Costa, representante adjunto do Secretário-Geral, o número dois da ONU no Haiti. O brasileiro Luiz Carlos, funcionário de carreira das Nações Unidas, vivia há muitos anos fora do Brasil. Ali descobri que além do braço militar, fundamental para a reconstrução política e social, existia uma missão paralela, a civil, que trabalhava junto a organismos estrangeiros para que o Haiti pudesse ser reerguido também economicamente.


Para Luis Carlos era importante trabalhar para dar confiança às comunidades para que elas pudessem se preocupar também com a criação de projetos para o crescimento econômico e social do país. O representante Adjunto acreditava que uma vez estabilizado, a missão no Haiti entrava em uma segunda e determinante fase: precisava de investimentos para a geração de empregos. Em Outubro de 2008, 80% da população estava desempregada, um número inacreditavelmente alto.

Depois da entrevista, já na porta de saída de seu gabinete, Luis Carlos perguntou se estava tudo certo para o helicóptero no dia seguinte que nos levaria para a cidade de Gonaives, arrasada por furacões naquele mês. Quando falamos que a carona havia sido negada pelos helicópteros da ONU, Luis Carlos se empenhou pessoalmente para a equipe brasileira de jornalistas pudesse mostrar a tragédia ao Norte do Haiti. Graças a ele, naquele dia, os brasileiros puderam acompanhar o trabalho das tropas chilenas, peruanas, argentinas e dos militares do Brasil no resgate e reconstrução de Gonaives.

Senti um imenso orgulho de ver um brasileiro ocupando um cargo tão importante na ONU. Senti uma imensa tristeza ao ouvir o nome de Luis Carlos da Costa entre os desaparecidos. Um brasileiro que lutava há 6 anos numa guerra que não era dele, mas com o empenho de quem queria alcançar a vitória – dignidade para um povo.

2 comentários:

  1. Parabéns pelas postagens, parabéns pelo Blog. Abraço.

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  2. Dizer lhe parábesn com certza é uma obrigação de quem lê as informações que aqui são contadas com tanto entusiasmo.
    Didezer lhe parábens é um reconhecimento de um amigo distente que aprendeu a valorizar um trabalho bem feito uma matéria bem produzida um texto bem elaborado mas com toda certeza execultado por um excelente profissional
    Parábens Dani voce exatamente oque deve ser...
    um exemplo de pessoa guerreira lutadora batalhadora nesta verdadeira guerra que é a vida em seu dia-a-dia.

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