segunda-feira, 22 de março de 2010

A Amazônia: paraíso tropical ou inferno verde?

Muito se fala sobre a Amazônia. É moda. Mas você já parou para pensar que as mesmas idéias são sempre recorrentes? São quase variações sobre temas muito parecidos? Não estou falando só de jargões, frases lugar-comum tipo “rios são estradas” ou “o tapete verde visto de cima” ou ainda - a pior de todas - “no coração da Amazônia”. Não falo de simples palavras, expressões, mas do que está por trás das letras.

Filmes, livros, reportagens de jornal ou tv mostram (quase sempre) dois extremos. De um lado a exuberância de rios, selva, animais. E tudo em estado bruto, natural, o éden na terra. È a “farmácia do mundo”, “o paraíso ecológico”, “a maior floresta tropical do planeta”. Se trocar de canal, virar a página ou navegar um pouco mais na internet, vai encontrar também “o lugar de chuvas e sol inclementes”, “uma multidão de insetos”, “o faroeste caboclo com doenças, grilagem, devastação da mata e do homem”.

Não é de hoje. Desde os séculos XVIII e XIX, época das grandes expedições européias ao Vale Amazônico que são feitos registros de uma Amazônia extremada. A exuberância da natureza e a grandiosidade dos cenários, dos desafios, marcaram profundamente os relatos daqueles cronistas. Nunca faltaram registros de mitos, muitos deles encontrados entre as populações nativas, outros criados pelos colonizadores, todos igualmente contribuintes para descrições exageradas. A localização de “paraíso” ou “inferno” é freqüente nos relatos dos viajantes.

Gravura Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues (1783-1792) .Ed SEC do AM

A representação da Amazônia que temos hoje foi elaborada sim por diferentes culturas, com diferentes interesses ao longo da história. Não foi um processo de dentro para fora, muito pelo contrário. Com a grande mídia, o fenômeno se multiplica. As representações da Amazônia evocam uma as outras, articulam-se em sistemas simbólicos e são compartilhados pelo coletivo através da imagem áudio-verbo-visual.

A Amazônia que você vê, lê ou ouve hoje em dia vêm sendo construída ao longo de cinco séculos no imaginário da humanidade. Por tanto devemos nos questionar: Será que não enxergamos a Amazônia apenas pela percepção do estrangeiro? Entranha, exótica, inusitada... O que nós, comunicadores da Amazônia, podemos fazer para trocar os mitos pelo cotidiano, o exótico pela melhoria social, o preconceito pela informação?


Vídeo: Amazônia: Olhar Interativo Pós-Fucapi (2008)
Imagens: Cedoc - TV Amazonas
Edição: Arnaldo Gama